Pesquisadores da Federal do Tocantins coordenaram trabalho realizado por adolescentes, fruto de microbolsa sobre o Guia Alimentar distribuída pelo Joio
Fruto de conversas e formações realizadas ao longo do primeiro semestre, Comida para o Bem viver – Povo Akwẽ-Xerente acaba de ser lançado e está disponível para baixar gratuitamente. O material foi elaborado por adolescentes da Terra Indígena Xerente, em Tocantínia (TO), e por pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins (UFT).
Trata-se de uma adaptação dos “Dez Passos para uma Alimentação Adequada e Saudável”, que é o capítulo final do Guia Alimentar para a População Brasileira. Na versão original do documento do Ministério da Saúde, essa seção condensa em tópicos curtos todas as principais recomendações.
A versão construída pelos Xerente promoveu uma adaptação das orientações à realidade desse povo e aos temas mais urgentes relacionados a alimentação e saúde. O material é bilíngue, com maior destaque ao idioma original, no qual é intitulado Dasa Akwẽ nõrĩ kkmã nmrõ psê mnõ pibumã. O documento coloca em primeiro plano as ilustrações produzidas pelos alunos do Centro de Ensino Médio Xerente. Os pesquisadores da UFT criaram uma premiação para quem realizasse os melhores trabalhos.
O primeiro passo destacado pelo documento do Ministério da Saúde, por exemplo, é “Fazer de alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação”. Na versão Xerente, foi adaptado para “Comer mais alimentos naturais – das roças, dos rios, frutos das árvores”, e é acompanhado por uma ilustração de frutos do Cerrado e de animais de pesca e caça.
O material é resultado de uma das três microbolsas distribuídas no final de 2024 pelo Joio, com o apoio do Instituto Ibirapitanga, a pesquisadoras. O objetivo era fomentar a elaboração de materiais de divulgação científica inspirados em pesquisas e no Guia Alimentar para a População Brasileira. As outras duas microbolsas resultaram em episódios do Prato Cheio.
“Adaptar para o povo Xerente os dez passos do Guia Alimentar foi uma experiência muito interessante, pois permitiu um diálogo que estabeleceu pontes entre os conhecimentos acadêmicos e a percepção dos jovens indígenas sobre o seu próprio sistema alimentar”, conta Reijane Pinheiro da Silva, professora do curso de Nutrição da UFT. Ela integra a Comissão de Alimentos Tradicionais dos Povos. “O potencial artístico e crítico desses jovens superou as primeiras expectativas e resultou em um trabalho belíssimo e muito significativo, pois foi pensado e construído por muitas mãos.”
Os Xerente, assim como outros povos indígenas, sofrem com o avanço dos ultraprocessados dentro do território. A proximidade com os centros urbanos e o marketing afetam o consumo e os modos de vida. No entorno, o avanço de fazendas de grãos e pecuária dificulta a manutenção da agricultura tradicional, da caça e da pesca, o que tem um impacto sobre a alimentação e, portanto, sobre a saúde.
Armando Sõpré Xerente, diretor do Centro de Ensino Médio, conta que o processo de elaboração do documento foi importante para engajar os jovens da comunidade. “Isso vai nos ajudar muito. Os alunos se sentiram muito valorizados.”
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Ficha técnica
Dasa Akwẽ nõrĩ kkmã nmrõ psê mnõ pibumã
Comida para o Bem viver – Povo Akwẽ-Xerente
Páginas: 12
Autores
Reijane Pinheiro da Silva
Kênya Lima de Araújo
Cristian Jobi Salaini
Cássia Araújo Moraes Braga
Márcio Bruno Alves Costa
Fernanda Damasceno de Carvalho
Maria Eduarda Ribeiro Silva de Souza
Ilustradores
Taynara Sekwahidi Xerente
Robson kurbepte Xerente
Vinícius kunkawē Xerente
Wender Sipirãdi Xerente
Tradução
Vanderley Krtitmõwe Calixto Xerente
Apoio Pedagógico
Armando Sõpre Xerente
Edite Smikidi da Mata de Brito
Leonardo Sampaio